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Caro Leitor,
Receber o convite para falar sobre esta edição
de Khalil foi um presente. Fiquei muito feliz
em saber que Khalil e sua turminha se aven-
turaram desta vez no universo da acessibili-
dade. Um tema que faz parte da minha vida.
Em 1994, quando iniciei no mundo da
tetraplegia, a acessibilidade (palavra que
significa qualidade do que é acessível, ou
seja, aquilo a que se pode chegar) dos
locais por onde eu passava eram bem
precárias. Foi então que me juntei a um
grupo já bem formado de brasileiros com
deficiência que gritava por aquilo que lhes
garantia a Constituição: o direito de ir e vir.
Para quem tem uma deficiência, como o
nosso amiguinho Dimas, bem retratado nesta edição, o direito de ir e vir nas cidades
ainda é um desafio. Antes de chegar à escola, que muitas vezes não é nada preparada
para alunos com deficiência, o obstáculo está na porta de casa, na própria calçada.
Quando me vi em uma cadeira de rodas, tive não só de me adaptar às condi-
ções do meu novo corpo, mas também do mundo ao meu redor. Uma lógica
injusta e nada inteligente, porque as pessoas não deveriam se adaptar aos
lugares, mas sim o contrário. Escuto muitos pais de crianças com deficiência
dizerem que a escola não está preparada para receber “alunos especiais”.
Sempre lembro que isso é um crime e está previsto em nossa Legislação.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015),
que relatei na Câmara quando era deputada Federal, prevê multa e
reclusão ao gestor que recusar ou dificultar o acesso ao aluno com defi-
ciência. Isso significa que nenhuma escola particular pode hoje cobrar
taxa extra de qualquer aluno com deficiência ou recusar sua matrícula.
As nossas cidades, as escolas e os serviços precisam se adequar para receber
toda a diversidade humana: sejam pessoas com deficiência física permanente ou
temporária, pessoas com deficiência auditiva, visual, intelectual ou surdocegas.
Pense que um ônibus acessível para obesos, por exemplo, será também
para uma pessoa com mobilidade reduzida. Ou a criança que convive
com outra com deficiência será no futuro um adulto mais consciente
e saberá não só respeitar, como valorizar a diversidade humana.
Hoje, vislumbramos um Brasil mais democrático para as pessoas com deficiên-
cia do que aquele de 94 quando fiquei cadeirante. Sabemos que ainda falta
muito para alcançarmos o ideal de inclusão, mas estamos no caminho certo.
Nesta edição de Khalil, vocês verão que a união pela acessibilidade
abre caminhos não só para “cadeirar”, mas para que todos prosperem.
Mara Gabrilli
Senadora da República e integrante do Comitê
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU.
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